20070203

Primeiros Encontros




Não marcamos no calendário o dia em que nos conhecemos.
Não marcamos no calendário a data exata em que começamos a trocar mensagens ou e-mails.
Não marcamos no calendário a data do primeiro café, do primeiro jantar, da primeira viagem, da primeira festa.
Achamos, por acaso e sem malícia, que era hora oportuna de por em ordem estes descontextos de cumplicidades e de diferenças... muito ao sabor das nossas esperanças e inquietações, das alegrias e das tristezas, dos afetos e das paixões, dos livros, dos discos e de todas as coisas que nos movem e nos fazem ser quem somos, como somos, ou como gostaríamos de ser.
É de olhares que vamos fazer estes descontextos.
Olhares diferentes que temos sobre as coisas.
Olhares, gostos e sabores que queremos partilhar, quanto mais não seja entre nós.
Decidimos marcar, a partir de hoje, presença nesta tertúlia pois é em momentos simples e singulares que aprendemos a essência da nossa vida e da dos outros.
Sejamos simples mas sejamos acima de tudo amigos.
Mas podemos marcar de sempre nos encontrar por aqui.

20070201

HOTEL CALIFORNIA - Que bela surpresa, trazem seus álibis!



HOTEL CALIFORNIA The Eagles - Composição: The Eagles



On a dark desert highway, cool wind in my hair
Warm smell of colitas, rising up through the air
Up ahead in the distance, / I saw a shimmering light
My head grew heavy and my sight grew dim I had to stop for the night
There she stood in the doorway; / I heard the mission bell
And I was thinking to myself, / 'This could be Heaven or this could be Hell
'Then she lit up a candle and she showed me the way
There were voices down the corridor,I thought I heard them say...
Welcome to the Hotel California / Such a lovely place /
Such a lovely face / Plenty of room at the Hotel California
Any time of year, you can find us hereHer mind is Tiffany-twisted, / she got a Mercedes-benz /
She got a lot of pretty, pretty boys, that she calls friends
How they dance in the courtyard, sweet summer sweat.
Some dance to remember, some dance to forget / So I called up the Captain,
'Please bring me my wine'He said, / 'We haven't had that spirit here since nineteen sixty-nine'And still those voices are calling from far away,Wake you up in the middle of the night / Just to hear them say...
Welcome to the Hotel California / Such a lovely place / Such a lovely facewe're livin' it up at the Hotel California / What a nice surprise, bring your alibis / Mirrors on the ceiling,The pink champagne on ice
And she said 'We are all just prisoners here, of our own device
'And in the master's chambers, / They gathered for the feast
The stab it with their steely knives, / But they just can't kill the beast
Last thing I remember, / I was Running for the doorI had to find the passage back
To the place I was before'Relax,' said the night man,
We are programmed to receive.You can check out any time you like,
but you can never leave!


TRADUÇÃO

Em uma escura e deserta rodovia
Vento frio em meus cabelos.
Um aroma quente de colitas
Surge perfumando o ar.
Logo em frente vejo luzes.
Minha cabeça pesando, sinto-me ofuscado.
Tive que parar no meio da noite.
Lá estava ela, na entrada da porta.
Eu ouvia o sino da capela da missão
E pensava em mim mesmo. / Poderia ser o céu ou o inferno.
Então ela acendeu uma vela, / Mostrando-me o caminho.
Havia vozes descendo o corredor
E penso ter ouvido o que diziam
Benvindo ao Hotel Califórnia!
Tão amável lugar, tão amável visão.
Há muitos quartos no Hotel Califórnia
Em qualquer época do ano você poderá encontra-los.

Em sua cabeça, o turbante.
Ela pegou um Mercedes Benz.
Pegou também belos, belos garotos. / Ela chamou amigos.
Ah! Como dançavam no pátio, / Verão, doce verão!
Alguns dançam para lembrar, / Outros dançam para esquecer.
Assim, chamei o Capitão: Por favor, traga o meu vinho!
Ele comentou: “Não havíamos tido aqui tal espírito desde 1969!”
Aquelas vozes, de longe, ainda chamavam.
Você acorda no meio da noite só para ouvi-las chamar:
Bem-vindo ao Hotel Califórnia!
Tão amável lugar, tão amável visão.
Eles vivem no Hotel Califórnia
Que bela surpresa, trazem seus álibis!
Espelhos no teto e champagne rosa no gelo.
Ela disse: “Nada mais somos que prisioneiros do desejo”.
Nos quartos principais eles estão reunidos para a festa.
Eles golpeiam com suas facas de aço / Mas não podem matar a besta!
Uma última coisa ainda me lembro: Eu estava correndo para a porta.
Eu tinha que encontrar a passagem / Que me levaria para fora dali!
“Relax” - disse-me o homem da noite -
“Estamos programados para receber,
você pode pagar sempre que quiser,
Mas nunca mais poderá sair!”.

Noé - Nossa História

A história se repete
leia a seguir a narrativa.

Se logo na sua segunda geração a humanidade já promovia tamanha zona, imaginem a esculhambação depois de dez gerações. E olhe que neguinho vivia muito naquela época. Adão, o primeiro homem, viveu 930 anos! Enoque, que deve estar lá pela sétima geração, viveu 365 anos e foi levado pro céu sem morrer, e seu filho, Matusalém, viveu 969 anos. E pensar que hoje em dia chamamos qualquer um que chegue aos oitenta de Matusalém, pobres velhinhos...
Mas é de Noé que quero falar. Noé é o décimo dos patriarcas, como podemos ver naquelas intermináveis genealogias bíblicas que parecem o Para Todos do Chico Buarque, com Noé cantando: O meu pai era Lameque/Meu avô, Matusalém/ O meu bisavô, Enoque/ Meu tataravô, Jarede, bom vocês já sabem onde isso vai parar, dez caras que viveram muuuuuuuuuuuito em ordem cronológica inversa até Adão.
Quando Noé estava com 500 anos (recém saído da adolescência, portanto), Deus o chamou para conversar. Perguntou sobre a vida, das crianças, Noé disse que Sem, Cam e Jafet eram os filhos que ele tinha pedido a Deus, aliás queria muito aproveitar a ocasião para agradecer, e sua família, seu Deus, como é que vai? E Deus disse que estava decepcionado, o que levava ao assunto que o trouxera até ali: Estava arrependido de ter criado o mundo e a humanidade, os homens portavam-se de forma escandalosa, matavam-se uns aos outros, enganavam-se, traíam-se, blasfemavam contra Ele, e aposto cem ovelhas com você como vocÊ se lembra dessa história. Resumindo, Deus resolvera destruir tudo com uma grande inundação, matar todo mundo afogado. Mas Noé era um cara legal, boa praça, e Deus determinara que ele seria o pai da nova humanidade. Pegou um pergaminho e começou a desenhar: "Tá aqui, ó. Você vai construir um grande barco, botar uma porta, uma janelinha, uma rampa e encher a caixa com um casal de cada espécie de todos os animais". Noé olhou o desenho, olhou pro desenho de novo, coçou a barba e disse "Tudo bem". Deus ficou muito feliz, e deu um prazo de cem anos para que Noé concluísse a empreitada.
No dia seguinte, com mil britadeiras dentro da cabeça e uma sede que dava vontade de beber todo o dilúvio, Noé se deu conta da sinuca de bico em que havia se enfiado. Era tarde demais para lamentar, no entanto, então chamou os filhos e perguntou o que eles achavam da construção, é claro acharam que ele estava brincando, Noé explicou tudo direitinho. Os três, claro, acharam supimpa. "Então peguem as ferramentas, que vamos construir o raio do barco".
E passaram-se cem anos. Na hora de botar os animais dentro da arca, Noé tomou um porre homérico, embora Homero nem sonhasse em nascer naquele tempo. Deus olhou lá de cima, viu que era trabalho demais pro cara e resolveu dar uma força. Bom, é claro que na arca já viviam os animais de sempre, cupins, formigas, traças, lesmas, baratas de todos os tipos, ratos. E os animais carregavam suas pulgas, carrapatos, vermes. Com essa vocês não contavam, contava?
Mas o negócio é que começou a chover, inundou tudo e Noé, sua esposa, seus filhos e suas noras passaram 40 dias navegando sem rumo. Depois desse tempo, as águas começaram a baixar e a arca encalhou no monte Ararat, na Armênia. A família ainda levou um tempo para sair, pois tinham que esperar a água baixar porque ninguém, sabia nadar ("Ninguém sai! Ninguém Sai!"). Mas acabaram por sair, pois precisavam repovoar a terra. Além do mais, o cheiro da bicharada tornava-se insuportável. Saíram e deram de cara com o arco-íris no céu. Deus explicou a Noé que aquele arco representava o pacto que ele fazia com a humanidade a partir de então, de nunca mais destruir a terra pelas águas (inventando aí, de quebra, o contrato com letras miudinhas: "O que não me impede de, quando for nescessário, destruí-la pelo fogo, pelos terremotos, pela fome, pela peste ou outro meio que me aprouver"). Observe bem que já esta acontecendo de tudo.(É ai que digo que a história se repete).
Todos viveriam felizes, se Noé meses depois não plantasse uma vinha, enchesse a cara mais do que nunca e amaldiçoasse um de seus filhos. Viu Deus que tudo recomeçava, fez "tsk, tsk, tsk" e começou a se arrepender de novo.
Ah, e Noé viveu até os 950 anos.

20070131

A VINHA DE NABOTE

Ocupar o lugar de honra num banquete é uma deferência de grande significado. Você tem a atenção de todos, tem a melhor comida, o melhor vinho, e é servido antes de todos. Nisso pensava Nabote, bom israelita, agricultor e comerciante. Era fácil entender o papel de quem ocupa o assento principal numa grande festa. Mas o que dizer do conviva principal de um jejum? Era o primeiro a não ser servido? Recebia as melhores porções de uma comida inexistente. Sim, porque Nabote era agora o centro das atenções de uma grande quantidade de pessoas, todas elas reunidas para o jejum convocado pelo rei Acabe. Todas elas estavam desconfortáveis com esse bizarro jejum público, mas nenhuma delas tanto quanto Nabote. Quanto mais ele pensava, mais acreditava que o convite tinha algo a ver com sua recusa em fechar um negócio com o rei.
Estava certo em sua suposição. Como vimos no final do capítulo anterior, o rei andava cada vez mais birrento, e qualquer contrariedade seria capaz de levá-lo a fazer alguma bobagem. Acontece que Nabote possuía uma plantação de uvas que ficava ao lado de um palácio que o rei possuía em Jezreel. Sem ter mais o que fazer o dia todo — decisões importantes eram tomadas por Jezabel, fosse como fosse — Acabe achou por bem propor um negócio ao proprietário da vinha.

Vamos a conversa.

Essa plantação é sua,rapaz?
Sim senhor.—Fica pertinho do palácio, não?
pois fica.
Vamos fazer um negócio?
Vamo não.
Mas você nem ouviu ainda!
Mas essa vinha foi herança de meu pai, e não quero me desfazer dela.
Rapaz, isso aqui ia ficar lindo como horta real, já imaginou? Imagina!
Tô imaginando.
E aí, vamos fazer negócio?
Vamo não.
Você é difícil hein! Eu te dou um vinha melhor que essa!
Melhor que essa, é?
É!
Quero não.
Eu te pago em dinheiro, quanto quer !
Carece não!

Sufocando sua raiva e frustração, o rei saiu dali batendo os pés, entrou no palácio e se deitou em sua cama de cara para a parede e com o dedo enfiado na boca
. Aos que lhe vinham perguntar o que tinha ou oferecer comida, apenas respondia com um "Uh-hum!" — ou qualquer coisa assim, era difícil entender o que ele dizia com o dedão na boca.
A reação do rei, muito madura e centrada, não tardou a virar o comentário do dia no palácio.
Temendo que a novidade chegasse às ruas de Jezreel, Jezabel foi ter com seu esposo.
Acabe, que conversa é essa?
Uh-hum!
UH-HUM O QUE FOI HEIN! DEIXA DE SER FRACO E ME FALA O QUE ACONTECEU.
Obediente como sempre, mas um pouco relutante, o rei narrou à mulher os fatos ocorridos daquela
Manha.

Que vergonha, tamanho homem!
Você é rei desta jóssa ou não é?
Levanta daí, levanta! Vai comer alguma coisa.
Mas... E a plantação, meu bem?
Deixa isso comigo! Amanhã mesmo a vinha de Nabote será sua.
Enquanto Acabe comia seus sucrilhos, Jezabel preparava seu plano.
Escreveu algumas cartas em nome do rei, seladas com seu sinete, e as enviou para as autoridades de Jezreel.

As cartas davam instruções para um grande jejum coletivo na cidade, que deveria ter Nabote no lugar de honra.
E ali estava Nabote, sentado em sua cadeira cada vez mais desconfortável, sentindo sobre si o peso dos olhos de seus conterrâneos, que nada entendiam. Ficaram assim por longos minutos, até que o homem sentado logo à frente de Nabote resolveu puxar assunto:
Você é Nabote, não é?
Sou sim — respondeu ele, sabendo que seu interlocutor era um sujeito de má fama na cidade, bandido e mau caráter.
Ah, eu te conheço!
Eu também! — disse o que estava ao lado do homem, outro elemento suspeito.
Não é você o grande ateu de Jezreel?
Ateu? Eu? Hã?
Isso, ele mesmo! Vive dizendo que esse negócio de Javé não está com nada, que ninguém nunca viu Javé, que é tudo uma jogada política para acabar com as outras culturas da região e tal.
COMO?
Não se faça de besta! Eu mesmo ouvi você falando essas coisas no bar ontem à noite.
Dizia também que Acabe é um bebê chorão, e que Israel merecia um rei macho de verdade.
HEIN?
Disse que quem manda no negócio todo é Jezabel, e que o rei vive debaixo da saia dela.

Mas isso é um absurdo! Vocês não acreditam nesses dois, não é verdade?
Ora, vocês conhecem a fama desses sujeitos, e conhecem a minha. O que acham?
Era tarde demais para Nabote, porém. Enfurecido pelo rumor levantado pelas duas testemunhas — segundo a lei mosaica, quantidade suficiente para se condenar alguém —, o povo levou o pobre coitado para fora dos muros da cidade, e ali o matou a pedradas.
No palácio, Acabe recebeu a notícia da boca de sua esposa, que o convenceu a ir imediatamente tomar posse da plantação. O rei se levantou e foi caminhando até a vinha.

Então veio a palavra do SENHOR a Elias, o tisbita, dizendo:
Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria; eis que está na vinha de Nabote, aonde tem descido para possuí-la.
E falar-lhe-ás, dizendo: Assim diz o SENHOR: Porventura não mataste e tomaste a herança? Falar-lhe-ás mais, dizendo: Assim diz o SENHOR: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote lamberão também o teu próprio sangue.

Quando se aproximava, notou de longe um homem que vestia roupas esfarrapadas, e lançava em sua direção um olhar que parecia hostil.
Chegando mais perto, não teve mais dúvidas de quem se tratava.
Então você já me achou, meu inimigo?
Depois, porque a notícia de tudo o que você tem feito de mau e criminoso deixa Javé cada dia mais irritado.
Mas o que foi que eu fiz?

Tenho um recado de Javé para você, rei Acabe.
Lá vem...
Ele diz que varrerá da terra todos os homens de sua família, de modo que não deixe descendentes.
O mesmo que ele fez às famílias dos reis Jeroboão e Baasa, fará à sua.
O cadáver de Jezabel, a prostituta que você chama de esposa, será devorado pelos cães junto ao muro da cidade.
Todos os parentes dela que morrerem na cidade terão o mesmo fim, e os que morrerem no campo serão devorados pelos abutres.
Ao ouvir a maldição proferida por Elias, o rei tremeu de medo.
Tentando reconciliar-se com Deus, rasgou suas roupas em sinal de arrependimento, vestindo um camisolão de pano de saco.
Ficou sem comer durante dias, dormindo no chão duro e exibindo um semblante abatido.
Ao ver a reação de Acabe, Javé resolveu rever suas ameaças:
Elias, diga a ele que lhe dou uma segunda chance.
Já que ele se mostra tão arrependido, não vou mandar toda essa desgraça para a vida dele.
O senhor é muito misericordioso, Javé. Estou surpreso.
Em vez disso, a desgraça toda recairá sobre o filho dele.

http://www.bibliaonline.com.br/acf/1rs/21
Veja o próximo capitulo.