20070127

Porque - Meu avô meu Herói


Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen
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Em memória ao meu querido Vô João

Uma página em branco não é suficiente para contar todos os ensinamentos que aprendi contigo. Mas uma coisa te prometo. Não mais deixarei de dizer em voz alta o quanto foste importante para mim, isto apesar das tensões e dos arrufos ideológicos. No beijo do teu adeus, descobri a importância dos teus silêncios e dos teus olhares, por vezes de aprovação e outros não. Não eram mais do que um sinal da tua preocupação com o rumo que a vida dos que sempre amaste podia tomar. Afinal, e como sempre, tinhas razão, meu herói.
Sabes, Vô... Não é fácil me lembrar de você sem que uma lágrima escorra rosto abaixo, em sinal de uma saudade que é tudo menos gratuita. Há no entanto uma coisa que me anima. Saber que onde quer que estejas, não deixarás de cuidar que tudo corra conforme traçaste.
Pois sua confiança em Deus te permite que assim penses.
Eu sei que, mais cedo ou mais tarde, havemos de nos encontrar. Em alguma esquina do tempo. Até lá ficará para sempre a saudade. Até sempre, Vô!

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